O dia 25 de janeiro de 2019 ficará gravado para sempre em minha memória. Foi nesse dia que assisti, pela TV, minha Minas Gerais sendo coberta, novamente, pela sujeira das mineradoras. Além da lama e dos rejeitos da mineração, a corrupção, a ganância, a falta de escrúpulos de executivos, agentes do governo e representantes de ONGs oportunistas lavaram campos e encobriram corredeiras e cachoeiras nas quais nos divertimos tanto quando éramos jovens. A massa podre encobriu dezenas de mineiros, que trabalhavam honestamente e confiaram sua segurança a quem não podia garanti-la. Ao contrário. Incautos, os mineiros atingidos pela tragédia de Brumadinho acreditaram nos que mais trabalhavam para preservar a insegurança das suas barragens.

Miraí, em 2007, Macacos, em 2001, Mariana, em 2015. E agora Brumadinho. É um histórico de calamidades, sofrimento, descaso e abandono. É o desassossego dos mineiros.

Não há explicação decente para os episódios de barragens rompidas ocorridos em Minas Gerais num espaço de tempo tão curto. Só o desprezo pela vida humana pode explicar a ausência de providências para reduzir a agonia de meus conterrâneos.

Do dia 25 de janeiro até o momento, quatro avisos de evacuação de moradores à jusante de barragens em Minas foram deflagrados. No dia 8 de fevereiro, a Arcelor Mittal solicitou a evacuação de 200 pessoas em Itatiaiuçu (MG), por risco de rompimento da barragem de rejeitos de Serra Azul. Na madrugada do mesmo dia, cerca de 500 moradores de Barão de Cocais acordaram com sirenes alertando para que eles saíssem imediatamente de casa, devido ao risco de colapso da barragem Sul da mina de Gongo Seco, da Vale. A terceira comunidade foi evacuada no último sábado (16), também conhecida na região como Macacos. Hoje, 21 de fevereiro de 2019, a BR 356, que liga Belo Horizonte à Ouro Preto está interditada por que a sirene anunciou que há risco de rompimento da barragem de Vargem Grande, em Nova Lima.

Não me interessa se licenças e permissões estão de acordo com o regulamento. Sabemos como são elaboradas regras e leis que supostamente deveriam controlar os arroubos do capital minerador avassalador. Rios de dinheiro abastecem as campanhas eleitorais da bancada da mineração nas câmaras municipais, assembleia legislativa, câmara dos deputados e senado. Bons patrocínios calam a boca de ONGs oportunistas. Mimos afagam os corações de agentes dos órgãos ambientais. O regramento acerca da segurança das barragens foi todo construído por aqueles que preferem mantê-las inseguras, a terem que gastar um pouco mais para poupar o sofrimento e a agonia das pessoas.

Não é possível mais nos calarmos diante do iminente afogamento de Minas Gerais num mar de rejeitos e sujeira promovido pelas mineradoras. É preciso punição exemplar dos responsáveis, que vão muito além de técnicos e os executivos das empresas.

“Follow the money”, e que seja criada uma operação “Lama Abaixo” para enjaular os que promovem a insegurança das barragens e aumentam a agonia dos mineiros. E que mudem-se as regras para garantir que Minas volte a ser a terra das alterosas, das cachoeiras, das montanhas e do belo horizonte.


 

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Ana Amélia de Conti Gomes
Ana Amélia de Conti Gomes é economista, formada na Universidade Federal de Minas Gerais, e mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina. Possui MBA pela Fundação Dom Cabral e post-MBA concedido pelas instituições americanas: University of the North Carolina e Northwestern University Kellog School of Management. Trabalhou por 10 anos na Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG, na área de planejamento econômico-financeiro. Além de finanças, na AES SUL e ENRON/SCGAS liderou a área de tarifas de energia elétrica e gás natural, respectivamente. Mais tarde, na DUKE ENERGY, somou experiências de liderança em várias áreas tais como desenvolvimento de negócios, regulação setorial, comunicação, sustentabilidade e relações governamentais, chegando a liderar a equipe de relações institucionais de toda a América Latina. Atualmente, é sócia e diretora executiva da Comercializa Energia Ltda.
http://www.comercializaenergia.com.br

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